1. Crítica da razão moderna e sua influência sobre a teoria da organização – A Nova Ciência das Organizações, uma reconceituação da riqueza das nações, Alberto Guerreiro Ramos

por | 14/02/08 | Ciência | 1 Comentário

A Nova Ciência das Organizações, uma reconceituação da riqueza das nações, Alberto Guerreiro Ramos

Capítulo 1. Crítica da razão moderna e sua influência sobre a teoria da organização

A Nova Ciencia das Organizações de Alberto Guerreiro RamosA teoria da organização, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque se baseia na racionalidade instrumental inerente à ciência social dominante no Ocidente. Na realidade, até agora essa ingenuidade tem sido o fator fundamental de seu sucesso prático.

Todavia, cumpre reconhecer agora que este sucesso tem sido unidimensional e, como será mostrado, exerce um impacto desfigurador sobre a vida humana associada. Não é a primeira vez em que, em razão de considerações teóricas, se é levado a condenar aquilo que funciona na vida social prática.

De fato, 40 anos atrás Lorde Keynes observou que o desenvolvimento econômico decorreu da avareza, da usura, da precaução – tudo isso coisas que ele desprezava. Concluiu ele, todavia, que “por mais algum tempo” precisavam elas continuar “a ser os nossos deuses” porque “somente elas nos podem fazer sair do túnel da necessidade econômica”.

No contexto das precárias condições que se esperava fossem ainda perdurar por algum tempo, Keynes recomendou que se “fizesse de conta, para nós mesmos e para todo mundo, que o certo é errado e o errado é certo; porque o errado é útil e o certo não é” (Keynes, J.M. Economic possibilities for our children. 1932. p. 372).

Tal como Keynes, hoje haverá algumas pessoas que prefiram suspender a crítica à teorial organizacional corrente, porque, embora sendo pobre em sofisticação, ela funciona. Contudo, para fazer isso, é preciso que se finja que a ingenuidade é o certo, enquanto a sofisticação teórica é o errado.

Mas num tempo como o nosso, em que a energia psicológica que um indivíduo tem que desprender, para poder enfrentar as tensões resultantes dessa forma de fraude auto-imposta, é de tal magnitude que ele se recusa a ser convencionalmente bem-sucedido e deixa de aquiescer às normas pelas quais a sociedade legitima-se. Nessas circunstâncias, a teoria da organização, tal como é hoje conhecida, é menos convincente do que o foi no passado e, mais ainda, torna-se pouco prática e noperante, na medida em que continua a se apoiar em pressupostos ingênuos.

A palavra ingenuidade é usada aqui no sentido em que a empregou Husserl, que reconheceu que a essência do sucesso tecnológico e econômico das sociedades industriais desenvolvidas tem sido uma conseqüência da intensiva aplicação das ciências naturais. No entanto, a capacidade manipuladora de tais ciências não constitui, necessariamente, uma indicação de sofisticação teórica. Assim, de acordo com Husserl, na medida em que essas ciências admitem como evidente por si mesmo o tipo pré-refletivo da vida cotidiana, ficam elas “no mesmo nível de racionalidade das pirâmides do Egito” (Husserl, E. Phenomenology and the crisis of philosophy. 1965, p. 186).

Em outras palavras, as ciências naturais do Ocidente não se fundamentam numa forma analítica de pensamento, já que se viram apanhadas numa trama de interesses práticos imediatos. É isso, talvez, o que Husserl quis dizer com a afirmação: “Toda ciência natural é ingênua, relativamente do seu ponto de partida. A natureza, que irá investigar, está simplesmente à disposição dela para isso” (Husserl, 1965, p. 85). No fim de contas, as ciências naturais podem ser perdoadas por sua ingênua objetividade, em razão de sua produtividade. Mas essa tolerância não pode ter vez no domínio social, onde premissas epistemológicas errôneas passam a ser um fenômeno cripto-político – quer dizer, uma dimensão normativa disfarçada imposta pela configuração de poder estabelecida.

O presente capítulo é uma tentativa de identificação da epistemologia inerente na ciência social estabelecida, de que a atual teoria organizacional é um derivativo. Meu principal argumento é que a ciência social estabelecida também se fundamenta numa racionalidade instrumental, particularmente característica do sistema de mercado. Concluirei o capítulo indicando o assunto principal do capítulo 2: um conceito de racionalidade substantiva, que ofereça a base para uma ciência social alternativa, em geral, e para uma nova ciência das organizações, em particular.

Fonte: RAMOS, Alberto Guerreiro. A Nova Ciência das Organizações – Uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.

 

Artigos sobre Ciência, Epistemologia e Sociologia da Administração

A ciência é neutra?

Muitos cientistas querem afirmar a neutralidade, mas a verdade é que somos naturalmente parciais. Toda e qualquer observação de fatos não é desprovida de valores, e a própria escolha do objeto de pesquisa depende de preferências pessoais do pesquisador. Pesquisas científicas são financiadas por pessoas ou instituições com interesses políticos. O mito da ciência pura e neutra é desconstruído por Marx, Weber e uma diversidade de autores. Leia o artigo completo: A ciência é neutra?

Alberto Guerreiro Ramos, vida e obra do maior sociólogo do Brasil

Alberto Guerreiro Ramos foi um dos maiores intelectuais brasileiros, e provavelmente o maior sociólogo do país. Sua obra acadêmica é reconhecida internacionalmente. Suas pesquisas ajudam até hoje o campo de administração a ser capaz de inovar e levar em consideração a dimensão da sustentabilidade ambiental. Guerreiro tem uma forma de fazer ciência e de produzir conhecimento que vai de encontro aos moldes hegemônicos, que se contrapõe à nossa propalada cordialidade. As críticas dirigidas por Guerreiro a nomes consagrados nas ciências sociais brasileiras como, Florestan Fernandes, não deixam dúvidas sobre o seu estilo. Leia sua biografia completa: Alberto Guerreiro Ramos, vida e obra do maior sociólogo do Brasil

Gestão de Ecovilas: Dissertação de Mestrado de Gabriel ‘Dread’ Siqueira

O que é uma ecovila? Como se administra uma ecovila? Qual a diferença entre uma ecovila e uma comunidade alternativa? Como acontece a gestão em uma comunidade intencional? Foram essas inquietações que me levaram a escolher a gestão de ecovilas como tema da minha dissertação de Mestrado em Administração pela UFSC, que concluí em julho de 2012. Para realizar minha pesquisa, fiz um mapeamento das ecovilas, comunidades intencionais sustentáveis e comunidades alternativas existentes no Brasil. Encontrei referência a pelo menos 99 comunidades ativas no país. Leia o artigo completo: Gestão de Ecovilas: Dissertação de Mestrado de Gabriel ‘Dread’ Siqueira – Como é a administração de uma ecovila?

A redução da Redução Sociológica de Alberto Guerreiro Ramos

A Redução Sociológica pressupõe um olhar criterioso sobre a ciência. A principal preocupação de Guerreiro Ramos era ser um sociólogo “em mangas de camisa”, inserido e atuante em seu contexto social, adotando uma postura política transformadora. Ele estava se rebelando contra a sociologia que era (e ainda é) dominante nas universidades brasileiras: uma sociologia “de gabinete”, distante da realidade nacional, e “consular”, onde o sociólogo atua menos como um solucionador de problemas e mais como representante de uma teoria estrangeira incapaz de explicar a realidade local, apoiando assim a dominação cultural e científica que os países periféricos sempre sofreram e continuam sofrendo.. Leia o artigo completo: A redução da Redução Sociológica de Alberto Guerreiro Ramos

A Síndrome Comportamental, de acordo com Alberto Guerreiro Ramos

Onde quer que a articulação do pensamento não encontre critérios de exatidão, não existe sabedoria. A síndrome comportamentalista faz com que o indivíduo se comporte como uma engrenagem. Alberto Guerreiro Ramos analisa a base psicológica da teoria organizacional e da ciência social em voga. O autor considera que as organizações são sistemas cognitivos e que seus membros em geral assimilam, interiormente, tais sistemas e assim, sem saberem, tornam-se pensadores inconscientes. Leia o artigo completo: A Síndrome Comportamental, de acordo com Alberto Guerreiro Ramos

Consenso e a racionalidade substantiva, TCC de Gabriel ‘Dread’ Siqueira

Vivemos em uma democracia participativa (ou não), onde a vontade da maioria é entendida como antagônica à da minoria. Esta minoria fica assim excluída do processo decisório político. O conflito é punido e reprimido na democracia. O consenso é a superação da democracia excludente. O objetivo do consenso é convergir alternativas e possibilidades de atender a necessidades de diferentes grupos e setores sociais em soluções conciliatórias. O conflito é uma etapa necessária do processo de consenso. É neste contexto que elaborei meu Trabalho de Conclusão do Curso de Administração. Leia o artigo completo: Consenso e a racionalidade substantiva, trabalho de conclusão do curso de Gabriel ‘Dread’ Siqueira

As organizações do movimento alternativo, por Mauricio Serva

Joseph Huber, sociólogo, economista e professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Livre de Berlim, fêz uma extensa pesquisa sobre organizações que ele denominou “projetos alternativos” no inícios dos anos 80, na então Alemanha Ocidental. Caracterizando o “movimento alternativo” como uma “explosão de idéias”, Huber (1985) nos dá uma visão suficientemente ampla desse movimento na Alemanha, relacionando as grandes áreas onde tais organizações aparecem. Leia o artigo completo: As organizações do movimento alternativo, por Mauricio Serva

A Grande Transformação, de Karl Polanyi

O futuro de alguns países já pode ser o presente em outros, enquanto alguns ainda podem incorporar o passado dos demais. Mas o resultado é comum a todos eles: o sistema de mercado não será mais auto-regulável, mesmo em princípio, uma vez que ele não incluirá o trabalho, a terra e o dinheiro. Karl Paul Polanyi foi um um filósofo, economista e antropólogo húngaro, conhecido por sua oposição ao pensamento econômico tradicional. Leia o artigo completo: A Grande Transformação, de Karl Polanyi

Empowerment: uma abordagem crítica

Empowerment, em português, significa “dar poder a”. No entanto, no contexto da Teoria das Organizações, empowerment é mais uma “tecnologia”, “modelo”, “técnica” ou até mesmo “modismo” da prática administrativa, recentemente muito popular nos círculos gerenciais. Deve-se atentar para o fato de que empowerment, assim como outras “tecnologias revolucionárias” e “tendências” administrativas, podem ser (e geralmente são) instrumentos de controle, maneiras de legitimar o papel central das organizações econômicas na vida de seus funcionários. Leia o artigo completo: Empowerment: uma abordagem crítica

Apreciação Crítica do livro “Marketing de Guerra”, de Al Ries e Jack Trout

Marketing de Guerra: já não temos violência demais no mundo? É impossível, para mim, realizar um trabalho acadêmico a respeito do livro “Marketing de Guerra” (1986), de Al Ries e Jack Trout, sem explicitar uma crítica. Na minha opinião, a visão de mundo e paradigma das quais parte a premissa desta obra ajudam a corroborar o estado de depressão psicológica e falta de sentido da vida que assolam nossa sociedade centrada no mercado. Leia o artigo completo: Apreciação Crítica do livro “Marketing de Guerra”, de Al Ries e Jack Trout

A Nova Ciência das Organizações: uma reconceituação da riqueza das nações

Foi a última obra publicada por Alberto Guerreiro Ramos, em 1981. Este livro foi publicada originalmente em inglês pela Universidade de Toronto (University of Toronto) com o título “The new science of organizations: a reconceptualization of the wealth of the nations”. É o resultado de suas pesquisas sobre a redução sociológica como “superação da ciência social nos moldes institucionais e universitários em que se encontra”. Uma proposta revolucionária de ciência, embasada em uma racionalidade substantiva. Leia o artigo: A Nova Ciência das Organizações: uma reconceituação da riqueza das nações, de Alberto Guerreiro Ramos

Banca da Graça: uma experiência de economia da dádiva e amor incondicional

Imagine que você está andando no centro de sua cidade. De repente, você se depara com uma banca cheia de CDs, DVDs, livros, utensílios diversos, brinquedos de criança, aparelhos celulares e até um computador. Instigado pela curiosidade, você resolve se aproximar e descobre que tudo isso está de graça. É só chegar e pegar! Esta é a proposta da Banca de Graça, uma iniciativa subversiva e revolucionária que você vai conhecer agora. Leia o artigo completo: Banca da Graça: uma experiência de economia da dádiva e amor incondicional

1 Comentário

  1. jumpsheol

    interessante o seu texto, queria ter mais conhecimento pra poder fazer um comentario mais critico,achei o seu blog bastante interessante, parabens.

    Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *