Indústria Cultural

por | 08/01/09 | Cultura e Música, Revolução | 4 Comentários

No final de 2008 recebi meu primeiro cachê como artista, pelo Bando Árvore Sagrada. Claro que com a banda Novo Quilombo a gente já tinha levantado uma graninha com uns shows, e o Árvore também já rendeu algo, mas sempre essa verba ia para o grupo, para investir em equipamentos, pagar custos de transporte, etc, etc…
Pois bem, sabe quanto foi o cachê pra cada integrante? R$40!! Isso porque conseguimos lotar o teatro nos dois horários…
Descontando os R$30 de contribuição mensal ao grupo, sobrou 10 pila…
Essa é a situação de quem está correndo à margem da chamada Indústria Cultural, ou melhor dizendo, batendo de frente com ela…

Momento Irônico
Mas sabe que, conversando com uns amigos meus alemães, percebi que ainda estamos bem (se comparados aos gringos). Enquanto na gringolândia só existe o “pesadelo do pop”, aqui a chamada  Indústria Cultural tem um leque de escolha de ritmos e estilos musicais muito mais rica. Em um ano, escolhem o sertanejo. No outro, o samba-reggae (a.k.a. AXÉ Music). Depois, forró… samba-rock… pagode… funk carioca… tá certo que a qualidade dos “símbolos” escolhidos para cada modinha é bem discutível, mas pelo menos não ficamos alternando entre New Kids on The Block, Backstreet Boys, Spice Girls, Britney Spears, Amy Winehouse, Avril Lavigne, blábláblá…

Indústria Cultural
por Marcos Nobre*

O TEÓRICO SOCIAL Theodor W. Adorno (1903-1969) voltou à cena nos combates culturais das últimas semanas.
Principalmente por ter criado o termo “indústria cultural” para circunscrever o lugar da arte e da cultura no capitalismo altamente desenvolvido do século 20.
As referências a Adorno no debate cultural não costumam ser lisonjeiras. Ele é caracterizado como elitista, hermético e superado. Um mal-humorado incorrigível que não gostava de jazz.
Ridicularizar uma figura como Adorno é mais fácil do que discutir a sério as relações entre capitalismo e cultura. Mais fácil do que explicar por que um conceito criado há mais de 60 anos continua a ser o ponto de partida do debate até hoje.
A idéia é simples como toda boa idéia. Com o desenvolvimento do capitalismo, também a arte passa a ser cada vez mais regida por princípios de mercado. Em um sentido bem preciso: o formato mercadoria passa a determinar a própria forma de produção da arte.
A idéia fundamental é a de que há padrões, “standards” de produção da arte que têm de ser respeitados se quem produz arte quiser ter sucesso. E isso quer dizer: se quiser vender seu produto no mercado.
O resultado é conformista. A arte se torna um tipo de tranqüilizante contra as dores do cotidiano.
Para combater esse resultado, Adorno dava como exemplo a arte que não é produzida segundo esses padrões impostos previamente pelo mercado. E mostrou que havia uma recepção dessa arte que reproduzia a mesma atitude crítica do momento da criação da obra.
Mas isso não basta. Quem não quer abrir mão de uma posição crítica como a defendida por Adorno se obriga a investigar com cuidado o funcionamento concreto do mercado cultural. Para conseguir captar o sentido de suas transformações.
Foi só nos últimos meses de sua vida que Adorno percebeu que mudanças importantes estavam acontecendo em relação ao diagnóstico que tinha feito na década de 1940.
Mas não chegou a analisar em profundidade indicações de que uma atitude crítica na recepção dos produtos da indústria cultural estava surgindo.
Também não chegou a ter clareza de que a expansão e a diversificação do mercado abriam brechas significativas de resistência e de contestação. Muito menos chegou a ver que novas formas de produção artística questionavam o mercado de dentro, politizando a vida cotidiana com uma amplitude inédita.
Apontar a insuficiência das análises de Adorno para o momento presente é certamente essencial. Mas não se confunde com o conformismo de jogar fora Adorno com a água da crítica.

Comentário
por João Moura Brasil, um camarada meu

Existiu meio que um debate entre Walter Benjamin e Adorno nessa questão. Benjamin achava que a Indústria Cultural só poderia existir se ela conseguisse se apropriar de algo novo, que se identificasse com as massas, enquanto Adorno via ela como cópia da cópia.
Se fala que o Adorno criticou o jazz, mas é possível que ele só tenha ouvido aquele swing tanga frouxa que dominava as rádios da época [devia ser um lixo mesmo]. Acho que ele engoliria a sua caneta se tivesse visto John Coltrane tocar, mas certamente o vovozinho estava em sua casa tocando Mozart quando isso aconteceu.
Essas “brechas” de que fala o texto de Marcos Nobre só mostram que o capitalismo chegou ao auge da divisão do trabalho: pessoas trabalham para criticá-lo sem nenhum compromisso com uma reforma.
Isso para não falar na falência da crítica, que não é mais ouvida, já que hoje cada um pode decidir por si [falou então!].
Se Adorno falava de uma indústria cultural fordista, não viveu para ver o seu momento de acumulação flexível. O que se fala em marketing hoje são justamente os nichos, não mais uma produçãoo para massas. O ganho estáa em fazer produtos que, in limite, se adaptem a cada consumidor individual, ou formando identidades via todo esse papo de formadores de opinião  falando sobre “ser você mesmo” [via mercadoria, claro].
*Fonte: Folha de São Paulo
Foto: Morada, Árvore Sagrada, por Lorena Sasaki

4 Comentários

  1. Rosana Oshiro

    A estrada artistica não é fácil mesmo…
    Foi-se o tempo…
    Hoje você “rala”, faz um trabalho sério e ainda paga para trabalhar…
    Mas o trabalho de vocês pelo que vejo vai além de fazer sucesso e isso é o mais importante: A MENSAGEM!
    Fé e Paz para você e o grupo!

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  2. Gabriel Dread

    @Rosana: continuamos firmes e fortes… os obstáculos só nos encorajam… Mas uma verba ia bem! rsrsrsrsr

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  3. Anônimo

    Cheguei aqui por meio de uma pesquisa do Google sobre o Benjamin e o conceito de Industria Cultural.
    Não sei se entendi muito bem se as opiniões expressas nos textos são de crítica e descarte quanto aos pensamentos do Adorno ou se só uma reflexão sobre algumas ''falhas'' contida nessa teoria quanto a cultura.
    De qualquer forma, acho esses conceitos do Adorno quase perfeitos.

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  4. Gabriel Moreira

    show de bola essa crítica, mas o que precisamos é conseguir deixar a massa brasileira com um senso crítico maior… aí o Brasil como um todo vai enfim ir pra frente e vocês conseguiram fazer sucesso com o que é verdadeiramente ARTE

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