A Paixão de Cristo

por | 10/04/09 | Espiritualidade | 0 Comentários

A Paixão da Páscoa segundo os “Atos de João” [condenada pela Igreja Católica]
A passagem dos “Atos de João” que relata a crucificação e Ressurreição de Jesus Cristo foi lida e condenada no Concílio de Nicéia, em 325 d.C.
É a afirmação mais iluminadora que nos resta da visão gnóstica cristã primitiva:

Então, antes de ser levado pelos judeus sem lei, que haviam recebido sua lei da serpente sem lei*, ele reuniu todos e disse: “Antes que eu me entregue a eles, oremos ao Pai um hino de louvor, para assim ir ao encontro do que virá.”
Então, ele pediu-nos para formarmos um círculo, de mãos dadas, e se colocou no centro. E disse: “Respondam-me com Amém”. Então começou a cantar um hino de louvor:

“Glória a ti, Pai!
Glória a ti, Graça
Glória a ti, Espírito Divino!
Gloria a ti, Santíssimo
Gloria a ti, Transfiguração
Louvamos a ti, Pai!
Damos graças a ti, ó Luz,
Onde não há trevas!
E portanto damos graças e direi:
Serei salvo e salvarei!
Serei liberto e libertarei!
Serei ferido e ferirei!
Serei gerado e gerarei!
Serei consumido e consumirei!
Ouvirei e serei ouvido!
Eu, que sou todo espírito, serei conhecido!
Serei purificado e purificarei!
A Graça ritma a dança circular.
Eu tocarei a flauta.
Dancem todos em círculo!
Eu prantearei, pranteem todos.
O Número Doze marca o compasso da roda nas alturas!
A todos e a cada um é permitido participar da dança!
Aquele que não compartilha da dança toma erroneamente o evento!
Desaparecerei e eu permanecerei.
Adornarei e serei adornado.
Serei compreendido e compreenderei.
Uma mansão eu não tenho, mas mansões eu tenho.
Uma tocha eu sou para quem me percebe.
Um espelho eu sou para quem me compreende.
Uma porta eu sou para quem passa.”

“Assim, enquanto respondem à minha dança, vejam-se em mim, o que fala. E quando percberem o que faço, mantenham silêncio a respeito de meus mistérios. Os que dançam, ponderem o que faço, mantenham silêncio a respeito de meus mistérios.
Os que dançam, ponderem o que faço, pois sua é esta paixão de humanidade que estou prestes a sofrer. Pois não poderiam de modo algum ter compreendido seu sofrimento, se eu não tivesse sido-lhes enviado como a Palavra do Pai. Quando virem meu sofrimento, vejam a mim como o sofredor; e ao vê-lo não permaneçam impassíveis, mas todos estremecidos.
Em seu esforço em direção à sabedoria, vocês têm a mim como leito: descancem em mim. Vocês saberão quem eu sou, quando eu partir. O que hoje pareço ser, eu não sou. Vocês verão quando cehgarem. Se soubessem como sofrer, seriam capazes de não sofrer. Olhem através do sofrimento e terão o não-sofrimento. O que não sabem, eu lhes ensinarei. Eu sou seu Deus, não o Deus dos traidores.
Eu trarei as almas dos santos em harmonia comigo. Em mim a Palavra da Sabedoria. Repitam comigo novamente”:

“Glória a ti, Pai!
Glória a ti, Palavra!
Glória a ti, Espírito Santo!”

“E para que compreendam o que eu sou, saibam isto: tudo o que eu disse, expressei graciosamente e não tive absolutamente vergonha disso. Eu dancei; mas no que toca a vocês, considerem o todo, e tendo-o considerado, digam”:

“Glória a ti, Pai! Amém!”

E assim, tendo dançado conosco, o Mestre partiu.
E como homens que se perdem ou estão entorpecidos pelo sono, nós perambulamos de um lado para o outro. E eu, então, quando o vi sofrer, não suportei seu sofrimento e fugi para o Monte das Oliveiras, lamentando o que tinha ocorrido. E quando ele foi pregado na cruz, a escuridão recaiu na sexta hora sobre toda a terra.

*De acordo com a visão gnóstica, se o mundo é mau, seu criador era mau; seu criador foi exatamente Satã, que apareceu a Cristo no deserto e é o Jeová do Antigo Testamento. O correspondente budista é o tentador do Buda, Kama-Mara, de cujo Desejo e Medo surgiu o mundo.
(Continua… clique aqui para ler a Ressurreição de Cristo segundo o mesmo evangelho censurado)
Fonte: CAMPBELL, Joseph. As Máscaras de Deus – v. 3. Mitologia Ociental. São Paulo: Palas Athena, 1994.
Foto: Jesus Christ, por midiman

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