Arnaldo Dias Baptista: Loki

por | 04/06/10 | Cultura e Música | 7 Comentários

Loki – Arnaldo Baptista e a banda Os Mutantes (Imagem: turquoise boy)

Loki – Arnaldo Baptista é um documentário cine-biográfico lançado em 2008 sobre a vida do gênio por trás da maior banda de rock do Brasil: Os Mutantes. Reverenciado no exterior, o compositor, cantor, multi-instrumentista, fundador e líder de uma das bandas mais criativas e geniais que o solo tupiniquim já nutriu, Arnaldo Baptista é um quase desconhecido em seu próprio país. O documentário premiado como Melhor Documentário pelo Júri Popular no Festival do Rio e da Mostra Internacional de São Paulo resgata o Arnaldo de seu retiro no interior de Minas Gerais para lembrar a todos de uma das maiores personalidades da música popular brasileira.

“O gênio é só um louco que deu certo” (Albert Einstein)

Loki narra a trajetória musical de Arnaldo, desde a banda de garagem Six Sided Rockers, no início da década de 1960, até a consagração com a banda Os Mutantes, o casamento apaixonado com Rita Lee e as loucuras movidas a LSD no início dos anos 1970. Depois, narra a dura e repentina separação, a decadência, a loucura, a tentativa de suicídio, o coma, para culminar na recuperação, um novo amor, o retiro no interior de Minas Gerais e a volta triunfante com o album solo Let it Bed em 2004 e a reunião d’Os Mutantes em 2006 (com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee) e com o show em homenagem à Tropicália realizado no Barbican Centre, em Londres, na mostra Tropicália – A Rrevolution in Brazilian Culture.

Todas as fases da vida do músico são lembradas por personalidades que conviveram e admiram o compositor, como Tom Zé, Lobão, Nelson Motta, Gilberto Gil, Sergio Dias, Dinho Leme, Zélia Duncan, Liminha e Rogério Duprat, além de sua mãe, a pianista clássica Clarisse Leite, e de sua segunda mulher, a atriz Martha Mellinger.

Fãs internacionais de Arnaldo, como Kurt Cobain, Sean Lennon e Devendra Banhart – que afirma que os Mutantes são melhores que os Beatles – também prestam suas homenagens ao ídolo e reiteram a importância de Arnaldo Baptista na história da música, não só no Brasil, mas no mundo.

A falta de depoimentos de Rita Lee no documentário chama atenção, o que levanta suspeitas de que ela ainda não tenha superado as mágoas da separação. Talvez ela se sinta em parte responsável pela depressão e decadência que seu ex-marido viveu após o rompimento do casamento. Me lembro que em 2006, quando Os Mutantes anunciaram que voltariam à ativa, ela fez declarações despeitadas, afirmando “o revival é um bando de velhinhos espertos, sim, tentando descolar grana para pagar geriatra!” Mas apesar de depor contra ela, sua ausência no documentário não diminui o mérito do filme.

Uma das cenas mais hilárias e psicodélicas do filme é a que mostra a participação da banda Os Mutantes no programa da TV Cultura Jovem Urgente, apresentado por Paulo Gaudêncio, psiquiatra e professor da PUC-SP. O programa era dirigido aos jovens e seus pais, em linguagem coloquial e direta, acessível ao público não especializado. A estrutura era simples: um grupo de jovens e pais sentados em círculo e o psiquiatra Paulo Gaudêncio no centro, numa cadeira giratória, com uma prancheta e pincel atômico para eventuais explicações.

Qualquer semelhança com Serginho Groisman é mera coincidência. Mas ao contrário do apresentador global, que prefere desfilar de mãos dadas com as autoridades, o Jovem Urgente foi o primeiro programa de televisão a sofrer censura pela Ditadura Militar no Brasil. Em 1969 e sua exibição foi proibida em todo o território nacional. Um dos motivos que levou a isso foi a participação de um bando de jovens artistas dos mais malucões pra falar “aquilo que os jovens musicalmente estão dizendo e os adultos não ouvem”: os Novos Baianos, os Mutantes e Tom Zé. Assista abaixo a participação dos Mutantes em um trecho extraído do filme:

Interessante notar que nesta época eles ainda nem haviam experimentado o LSD, mas já dominavam a psicodelia, a inovação e a criatividade artística sem o artifício de enteógenos.

O filme perde um pouco o ritmo em algumas passagens, especialmente quando mostra as cenas atuais de Arnaldo e sua esposa em sua casa. A tentativa de trazer um tom dramático e de emocionar o espectador falha em alguns momentos, provocando a perda da concentração, mas isso é compensado pela excelente trilha sonora, repleta de clássicos dos Mutantes, como Qualquer Bobagem, Ando Meio Desligado, Balada do Louco, Top Top, Tecnicolor e Panis et Circenses, algumas delas em versões raras, além de músicas da primeira banda de Arnaldo Baptista, O’Seis; de sua carreira solo; e de outros projetos idealizados pelo compositor, como a peça de teatro Heliogábalo, da qual foi diretor musical, e os grupos Patrulha do Espaço e Unziotro. O documentário revela enfim a personalidade, a genialidade e a pessoa de Arnaldo Dias Baptista, o Syd Barret brasileiro

Dizem que sou louco por pensar assim
Mas louco é quem me diz e não é feliz
Eu sou Feliz
(Arnaldo Baptista, A Balada do Louco)

Ficha Técnica
Título: Loki – Arnaldo Baptista
Duração: 120 min.
Ano de lançamento: 2008
País de origem: Brasil
Gênero: Documentário
Direção, Roteiro e Montagem: Paulo Henrique Fontenelle
Empresa Produtora: Canal Brasil
Produção Executiva: André Saddy, Isabella Monteiro
Direção Fotografia: Marco Moreira
Música: Arnaldo Baptista e Os Mutantes

Nota: 9

Assista o trailer:

O filme completo está disponível no YouTube em 16 partes. Mas tome vergonha na cara e compre o DVD que vale mais a pena!

Fonte:
Arnaldo Dias Baptista – site oficial
Arnaldo Baptista – Wikipedia
Os Mutantes – Wikipedia
Jovem Urgente, 1969 – blog Vitrola
Loki: release ofical – Canal Brasil

 

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7 Comentários

  1. tiago jaime machado

    gosto muito desse loki!

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  2. Richard

    Cara, você acredita que só pude ler o texto agora? Sou fã demais dessa banda e do louco do Arnaldo. Não concordo que são melhores que os Beatles, são dois grandes grupos, mas prefiro não os comparar com ninguém, cada com com seu espaço no meu coração.
    Ah, comprarei o DVD logo.

    Abs, Rastaman!

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  3. Gabriel Dread

    @Tiago: E que Loki, né não?

    @Richard: Também não concordo que Os Mutantes são melhores do que os Beatles. Comparações deste tipo não fazem sentido, pois não há competição. Cada grupo teve seu espaço e causou sua própria revolução.

    Interessante até notar que ambos estavam atuando na mesma época. A tropicália teve início em 1967, ano em que os Beatles gravaram e lançaram seu álbum mais revolucionário e psicodélico (na minha humilde opinião): Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band.

    Abração e grato pelos comentários e visitas silenciosas
    Gabi Dread

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  4. Murilo

    olha, vou confessar que foi engraçado ver ele tocando na pça da republica, no aniversário de São Paulo.Ele ficava la na frente do palco fazendo gestos aleatórios no teclado, com cara de pastel e atrás dele tinha um tecladista de apoio que fazia os acordes certos…Mas só a presença dele no palco ja fazia valer, depois de tanta coisa q fez pelo rock do brasil e depois de tanto sufrimento, tava lá, com sorriso estampado de bochecha a bochecha

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  5. Anônimo

    Em 1.972, Os Mutantes fizeram um baile/show no Clube Comercial da cidade de Lorena, SP. Foi um dos maiores espetáculos de luz e som que havia apreciado desde então. FANTÁSTICA BANDA, FANTÁSTICO SOM !!! Obrigado Arnaldo.

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  6. Anônimo

    Nunca me esquecerei daquele show no Clube Comercial de Lorena, SP, ocorrido em 1.972, todos que lá estavam ficaram vislumbrados com os Mutantes, era um som maravilhosamente psicodélico, com jogos de luz etc. Até hoje te curto Arnaldo e
    obrigado pelo inesquecível show que até hoje perdura em nossa memória. DEUS te aBENÇOE!!!

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