Como elogiar seu filho: dicas da educação livre

por | 24/05/11 | Ecovila, Revolução | 5 Comentários

Como criar bem seus filhos? (imagem: Gabriel Dread)

Uma das grandes dúvidas que os pais e educadores têm é: qual a melhor maneira de elogiar uma criança?

Muitos temem que encher a criança de elogios ajuda a criar um adulto que não sabe lidar com o fracasso, enquanto outros procuram distinguir entre os “bons” e os “maus” elogios.

Ainda acredito que o ideal é nem elogiar. Confio plenamente que a criança faz coisas por iniciativa própria. Ela é automotivada naturalmente.

Quando nós, pais, que somos a maior referência na vida da criança, qualificamos os atos dela (“Muito bem” “Que lindo”, “Você se esforçou muito”, “Você é muito ético”), estamos “ensinado” a elas que devem fazer coisas esperando uma recompensa exterior. Isso acaba com a espontaneidade da criança e ainda corremos o risco de transformá-la num “showzinho” para visitas, amigos e parentes (“Mostra pro titio como você dança”).

Para preservar a automotivação da criança, a espontaneidade e a autonomia (não ficar dependente dos elogios, afinal não estaremos presentes a vida toda para ficar dando estas “recompensas”), o melhor é simplesmente descrever a situação, evitando qualificações e adjetivos.

Exemplos:
-Mãe, olha!
– Estou vendo, você está pulando numa perna só,
(ao invés de “Que lindo/esforçado! Você conseguiu! parabéns!)

– Mãe, fiz esse desenho pra você
(Mãe olha atentamente o desenho, tenta intender é fala com sinceridade o que está vendo)
-“Você usou muitas cores. O que é este circulo aqui?”
(ao invés de “Que lindo”, sem nem olhar direito)

Quando a criança fala a verdade, simplesmente não dizemos nada. A criança agiu assim porque quis, porque para ela é certo. A criança tem uma ética própria que será moldada pelas atitudes e exemplos dos pais e cuidadores, não pelas recompensas que ela receber. Caso contrário não é ética, mas moralismo.

Claro que podemos e devemos ficar felizes com as conquistas de nossos pequenos. Podemos demonstrar que estamos felizes, mas com todo cuidado para não inverter a situação e roubar delas o que elas tem de mais puro: a espontaneidade automotivada.

Mudar de atitude não é fácil, especialmente porque nós todos fomos criados nessa lógica da recompensa exterior e acabamos agindo assim “naturalmente”. Para quebrar esses padrões, é um esforço constante e atenção plena na comunicação com a criança.

Mais importante do que recompensar com palavras é recompensar com atenção: abaixar à altura da criança, olhar no olho, escutar o que ela tem a dizer e fazer antes de atropelar ela com o que nós queremos. Um olhar atencioso e verdadeiro vale mais do que mil elogios.

Behaviorismo na educação: ciência ou tradição?

Assim, discordo plenamente da pesquisadora estadunidense Carol Dweck, uma daquelas que afirma que “Se você elogia uma criança por sua inteligência, a enfraquece. Ela vai acreditar que a capacidade que vale é a inata e vai mentir para manter a aparência de esperta”.

Para provar seu ponto de vista, a “psicóloga” aplicou um teste em 400 crianças de quatro anos de idade. Dividiu-as em dois grupos. Quando as crianças do primeiro grupo terminavam a tarefa, eram elogiadas por serem muito inteligentes. Já as do segundo grupo recebiam elogios por serem muito esforçadas.

Depois, era oferecida uma segunda tarefa, esta opcional. 90% das que foram taxadas de esforçadas escolheram fazer a segunda tarefa, enquanto a maioria das que foram “classificadas” pelos adultos como inteligentes preferiu não realizá-la. A pesquisadora concluiu que os “inteligentes” tinham menos persistência.

Com base nessa pseudo-pesquisa, o psicólogo e mestre em Educação Marcos Meier afirma que as crianças que foram classificadas como inteligentes não queriam desfazer a imagem que fora projetada nelas, e por isso optavam por não aceitar novos desafios.

Em sua coluna Elogie seu filho do jeito certo , Marcelo propõe a existência de uma categoria de elogios que seria “superficial”, por serem meras interpretações dos adultos: “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Segundo o autor, pais que fizerem este tipo de elogios mais cedo ou mais tarde irão se defrontar com charminhos, birras e chiliques.

Outra categoria (a que ele recomenda) é aquela que reforça os comportamentos que o adulto quer que a criança repita: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo… você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram… você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Os pais que fizerem este tipo de elogios irão ter filhos “melhores” do que os que aderiram aos elogios superficiais.

Como já expus em um artigo sobre o comportamentalismo, tenho sérias restrições aos pressupostos desta “ciência” behaviorista. Acredito que qualquer elogio que tenha como propósito “educar”, “ensinar” ou “estimular comportamentos adequados” (como aqueles que ele oferece) é de certo modo superficial. A lógica comportamental que está implícita nesta idéia é tão simplória que deveria chamar atenção das pessoas mais esclarecidas.

Volto a afirmar: ainda acredito que o ideal é nem elogiar. Confio plenamente que a criança faz coisas por iniciativa própria. Ela é automotivada naturalmente, contanto que a gente não estrague ela com moralismos comportamentais. Para encerrar, deixo aqui as sábias palavras do meu grande camarada Manuel Castro do site Slingando – A Web do Baby Sling:

Acho que junto com os elogios, deveríamos parar de ficar comentando a vida de nossos filhos e de fazer juízos de valor.

Por exemplo, quando um pai diz para o outro, na presença do filho ou em qualquer situação onde as crianças estão presente: “o meu filho não come nada” ou “o meu filho não gosta de tal coisa ou tal outra” ou mesmo um comentário aparentemente inofensivo como “o meu filho eh muito sapeca ou tímido, etc”, de que servem para um filho ou para nós estes comentários? Só vão fazer com que a criança se identifique com estas palavras, mesmo sendo falsas afirmações que não tem nada ver com a realidade e são sim ideias sem sentido, vindas da nossa cabeça que não para.

Não sei se da para entender, mas pensem nisto, nenhum adulto gosta que outro fique relatando sua vida, seja elogiando, criticando ou fazendo comentários o tempo todo, então por que pensar que uma criança gosta. Eu mesmo me sinto desconfortável quando se fala de mim, em minha presença.

Vocês não?

5 Comentários

  1. Marcia(Salada Mixtta)

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  2. Anônimo

    Sinceramente não gostei o artigo, não acho certo não elogiar a criança, me parece algum modelo americano, frio… esse sim é superficial, principalmente hoje em dia onde a criança é bombardeada de assuntos ruins, na tv, radio e internet, escola. Alguem vai influenciar ela..então que seja os Pais.

    No caso da pesquisa o elogio de comportamento eu entendi que não é só elogiar para continuar fazendo, mas ensinar e reforçar conceitos básicos da vida, como a caridade…benevolência, compreensão, amizade. E não simplesmente…filha você é especial..a melhor melhor do mundo…

    Muito bem..você foi uma boa amiga e compartilhou o seu video game.. Você ajudou a sua amiga.. òtimo você não gritou lá dentro.

    Assim ensina conceitos básicos que não se vê hoje em dia. Ela não vai saber se você não falar. Vai ver o rapaz da escola dizer "mano" e achar que isso é legal.

    Naturalmente você não esta educando um cachorro reforçando o comportamento positivo. Pra mim é natural ver um desenho do meu filho e perguntar sobre o desenho e elogiar, porque realmente gostei.

    Não achei legal..minha opinião

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  3. laetitia novelli

    Achei sua opinião muito interessante, porém extremamente radical… Vc esquece que diversas vezes os pais tem que mediar situações e nessas horas um elogio pode ser um forte aliado.

    Dividir um brinquedo, por exemplo. A criança sozinha raramente divide (até porque quando um amiguinho demonstra interesse naquele brinquedo “esquecido” ele volta a ser interessante). Então, como desperta-la para generosidade, para um comportamento legal etc se não for através de um elogio?

    Qual seria outra motivação?

    A criança tem auto-motivações muito fortes que são o prazer/diversão/curiosidade. Ela está se divertindo fazendo “arte”… No entanto, nunca vi criança auto-motivada a guardar, limpar etc. Tudo bem, primeiro ela precisa ser orientada. Mas, e até isso virar um hábito? Ela só guardará as coisas sozinhas quando tiver prazer nisso – mesmo que seja o de mostrar que ela é legal, arrumou tudo etc.

    Pense no seu site: uma crítica pode até fazer com que vc se corrija mas os elogios farão com que voce escreva mais, certo?

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  4. Anônimo

    Seguindo o padrão do Artigo, caso a criança faça algo errado, ou mal feito, também devemos reagir de forma neutra? O "problema" do autor é que ao não dar esse tipo de resposta neutra, moldamos a criança a esperar algo. Discordo totalmente, acredito que devemos reagir positivamente caso a criança faça algo que julgamos positivo. Uma reação dessas mostra para a criança que o ela fez repercute e gera um efeito nas pessoas a volta e a alegra. É verdade que não podemos exagerar, pois isso realmente vai criar uma expectativa e gerar "chiliques" e "birras", mas a criança deve saber que ela repercute frente aos outros e ao mundo de forma positiva ou negativa, dessa forma acredito sim que seja necessário tanto elogiar como dar a bronca .

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  5. Thayna

    Olha… Pra começar cai no seu blog depois de ouvir o ultimo nerdcast. E lendo alguns posts, senti vontade de comentar nesse. Primeiramente, filhos não tenho. Mas achei interessante a sua teoria. Realmente, quando elogiamos uma ação feita por crianças e até por nos (adultos), nós sabemos que se a repetirmos seremos, se não recompensados, pelo menos não rechaçados. Bem… Apesar de ainda não me decidir, é bom contar com novas ideias e impressões. Abraços!

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