A Perpetuação da Mentira, e nossa missão para reverter isso

por | 28/12/11 | Revolução | 8 Comentários

 

Uma vez, meu professor de Cálculo
II – na época em Eu que fazia graduação em Sistemas de Informação – definiu a
luz como uma perturbação sensorial, uma série de ondas inexplicáveis que se
comportavam de modo notável. Ele era um cara egocêntrico, e passava horas
fazendo definições como essa somente para mostrar que tinha certos
conhecimentos. A maioria das outras Eu esqueci, mas essa da luz guardei. A Luz é
singular, situada numa categoria intermediária de ondas. Ela não possui massa –
mesmo se a massa dela fosse infinitamente pequena, nos mataria, pois ao
alcançar a velocidade da luz, se tornaria infinitamente grande – mas mesmo
assim é atraída pela gravidade de grandes planetas e buracos negros. Não sei se
a Física bolou alguma explicação mirabolante para desfazer esse nó, mas com
certeza esse é um fato bem curioso.
Eu sempre associei a Luz com
informação. Onde há informação, não pode haver as trevas. Se um povo está bem informado,
não aceita ser escravo. Tivemos vastos períodos de Trevas. Até uma Idade das
Trevas inteira tivemos. E sempre a Luz terminou por dissipar essas Trevas – ou
ao menos torna-las menos intensas. Claro que nem sempre essa Luz foi
essencialmente boa, pois algumas vezes só serviu unicamente para o momento,
afastando uma deficiência e trazendo outra, de natureza muito mais aterradora.
Se antes vivíamos uma era de Trevas, onde a Luz era escondida por uma série de
superstições baratas e ganância de líderes religiosos, hoje vivemos uma situação
que creio ser inédita: excesso de Luz.
Se penso em Luz como informação –
e não estou essencialmente fazendo separações da natureza dessa Luz – não posso
definir essa nossa presente Era de modo diferente. Hoje, salvo raros países sob
regimes estatais extremamente ditatoriais, a Luz impera, e por isso fica cada
vez mais difícil distinguir àquela que deve ser realmente absorvida. De uns
tempos para cá, os que estão no poder decidiram que era hora de mudar de
tática. Desde os anos 50, mais ou menos, ao invés de simplesmente bloquearem a
informação e favorecer as Trevas, eles adotaram a tática de Joseph Goebbels e
sua célebre frase: Uma mentira repetida
mil vezes torna-se verdade
.
Pense comigo: o que é mais difícil, achar luz no meio de
trevas intensas; ou uma luz verdadeira, não distorcida, no meio de um ambiente
excessivamente iluminado?
Creio ser uma resposta óbvia. Hoje temos mentiras
para todos… a mentira do corpo perfeito, da cura da depressão pela simples ingestão
de uma pílula da felicidade, a mentira que diz que nas próximas eleições tudo
vai melhorar, a de que sem as grandes corporações nossa vida seria uma merda,
de que nossa sociedade é perfeitamente organizada e de que o problema está nas
pessoas, e inúmeras outras. Vários dos nossos valores estão baseados em
mentiras, fragmentos distorcidos e escancarados de uma aproximação da verdade
indistinguível. Regredimos da Idade da Verdade Escondida para a Idade da
Verdade Camuflada.
Transformar isso passa por uma
mudança nas próprias bases do poder: o povo. Grande parte do problema está no
fato do povo só acreditar em uma informação que tenha o carimbo de uma grande corporação
informativa. Aqui no Brasil, por exemplo, se não vier da Globo, Band, Record ou
outra coisa similar, não merece crédito. Assim como qualquer conhecimento só
merece crédito se tiver o carimbo Científico.
Tempos estranhos esses, onde
psicologicamente o povo parece querer e exigir ser dominado. Pessoas têm cada vez menos senso crítico, cada vez menos
capacidade de questionamento, o que mostra que a tática de inundar o mundo com
informações deu muito certo. Hoje se está mais preocupado com o EGO, com o
Datena, com o que os artistas e celebridades usam ou qualquer tipo de futilidade
que desvie o pensamento da verdade. Num mundo onde os principais vilões enchem de dinheiro justamente as empresas que deveriam ser a voz da
sociedade, onde uma orgia em que cada vez mais é difícil distinguir o que é
Estado-Mídia-Corporação, os que deveriam lutar para uma mudança desses quadros
não conseguem nem dissociar a Verdade da Mentira, a Luz das Trevas – só estou
usando essas Dicotomias a título de criar uma linha de pensamento, pois não
acredito em Maniqueismo e divisões tão rígidas. Encare essa superestrutura de
poder como uma máquina de movimento perpétuo, que parece fisicamente perfeita,
intrínseca… mas dentro de suas engrenagens intrincadas, está escondido um
anão que a movimenta.
Não encare o Estado, o
Capitalismo de Mercado, a Propriedade Privada, o Trabalho, o Dinheiro, os
Bancos, o Consumismo Desenfreado, e toda uma série de mecânicas escravizadoras
como algo natural do ser humano. São apenas formas muito bem pensadas de causar
divisões sociais e impor hierarquias de poder, além de fingir que te deram
alguma escolha. Se nos países Comunistas nós tínhamos ditaduras em sua forma mais
bruta e cruel – com arame farpado, guardas, imprensa amordaçada –, nos países
de cunho capitalista, isso é feito de forma disfarçada. Existe a ilusão do
sucesso – “Eike Batista é bilionário, você pode ser também” -, a ilusão da
escolha, existe a simulação internética das relações sociais, existe o
isolamento, existe o narcisismo extremado, a depressão. A ditadura está lá, mas
é habilmente disfarçada através das tais Superestruturas. Não se engane, é tudo
psicologicamente igual, mas as mentiras – que ganhou a conotação moderna de
Verdade Escancarada – o fazem pensar diferente. E conhecê-las é de suma
importância.
Fiquei muito feliz quando o
Gabriel Dread me convidou para contribuir com o Irradiando Luz. Estou numa fase meio diferente da minha busca por
informações. Quando fundei o Nerds
Somos Nozes
, achei que passaria a vida desnudando e analisando a Cultura Pop,
resenhando um sem-fim de obras. Depois de resenhar uns 100 filmes, alguns
livros, HQs e álbuns musicais, creio que chegou a hora de dar um passo adiante.
Nos últimos dias, estava com o pensamento de criar outro blog, mesmo
colaborando com alguns blogs de amigos, além de editar o NSN e a Mob Ground. Ultimamente,
estou mergulhando na Filosofia e na Anarquia, dois ramos de pensamento que cada
vez mais estão dando as mãos. E isso se deve tanto a uma iniciativa pessoal,
quanto pela minha aspiração acadêmica. Então, encarei o chamado como uma
espécie de sinal. Creio ser a missão dos Escritores, Artistas, Jornalistas,
Filósofos e Dissidentes em geral, a de lançar as bases para o povo ter
capacidade e conseguir desenvolver algum pensamento questionador. Capacidade de
entender, por exemplo, que os palhaços que concorrem a eleições são somente
fantoches nas mãos dos que realmente estão no controle. É essa linha que
pretendo seguir escrevendo aqui.
Não sou do tipo muito espiritual.
Encaro a Espiritualidade apenas como um ramo do pensamento humano, o lado
Abstrato que se interpõe a Racionalidade – os Sentimentos seriam como uma
ligação entre esses dois campos, racionalizando a abstração e abstraindo a
racionalização. Nesse momento só posso dizer que sou contra todas as
organizações religiosas monoteístas – principalmente o Judaísmo e o
Cristianismo, que conheço melhor. O problema delas surge de dois aspectos
básicos: o Medo da perdição eterna, e de colocar seus seguidores como
superiores a todo o resto dos habitantes do mundo e portadores de uma verdade
única e absoluta. O problema é que elas usam a Espiritualidade como algo
estratificado, hierárquico, como algo imposto, e não como a expressão de algo
individual inerente ao ser humano.
Me identifico bastante com
Prometeu, que levou o conhecimento divino aprisionado dos deuses para sua
criação, os Humanos. Por esse motivo ele foi severamente punido por Zeus. Acho
que a Religião e a Ciência – que andam juntas em muitos aspectos, mas foram
separados pelo pensamento radicalmente ateu de certas correntes do Iluminismo
do século XVII – estão cada vez mais agindo como Zeus: prendendo conhecimento,
transformando o que deveria ser de todos, em algo exclusivo, parte de um
clubinho fechado que só conversa entre si. No fim, esse conhecimento vira
somente um mecanismo de Distorção e Simulação da realidade.
Creio também ser
missão daquelas classes de pessoas que citei lá em cima, criar pontes de
conhecimento entre esses Clubes e o Povo. Não pode haver qualquer tipo de
transformação social profunda através da construção de muros que impedem a
transmissão de conhecimento – da Luz. É nisso que vou me basear, em trazer
Fragmentos, Peças, e dar a vocês a possibilidade de montarem a verdade e respostas
ao questionamento de vocês. Espero muito aprender com a experiência, receber
conhecimentos, críticas e todo o tipo de feedback de vocês leitores, porque
ainda tenho muito o que aprender, sempre digo que precisaria de umas quatro
vidas lendo pra chegar perto de onde quero chegar.
Bom, o Gabriel pediu para Eu
definir mais ou menos sobre o quê irei escrever. A resposta é: Tudo. Não um
Tudo absoluto, mas o tudo da Obra Magna da Cultura Pop na minha opinião, Os Invisíveis. Grant Morrison, que a
escreveu e diz ter recebido seu texto de alienígenas durante uma abdução no
Nepal, encheu o texto de fragmentos, peças, signos, provocações, nunca com uma
proposta inteiriça e completa. O nível de absorção de cada um com relação à
obra vai depender da vontade de aprender. Vemos inseridas nas páginas de Os Invisíveis, civilizações americanas,
Física Quântica, Teoria do Caos, Magick, Xamanismo, Viagens no Tempo, um pouco
de história francesa, literatura vitoriana, e mais um monte de coisas. Conclusões?
Cada um tirou a sua. Fóruns foram organizados, grupos de fãs queriam entender
tudo que estava ali, e desses gestos surgiram respostas. Então, espere dos meus
textos, um pouco de Filosofia – no estilo de Paul Feyerabend, por exemplo -, de
Anarquia – com referências a Hakim Bey, John Zerzan, Murray Bookchin -,
Antropologia – como a de David Graeber -, Educação – na proposta de Ivan Ilich
e Paulo Freire, por exemplo. Alguma coisa de Noam Chomsky e Bob Black também. Em
outras palavras: Tudo.

Enfim, espero que curtam a Viagem.

8 Comentários

  1. Richard

    Cara, que viagem.

    Gosto muito dos teus textos e me inspiro bastante na tua vontade de ter mais e mais conhecimento.

    Tenho escrito muito pouco por aí, sem vontade alguma. Também estava sem vontade de ler, até começar a rever meus feeds.

    Eis que surge isto aqui e tudo já começa a mudar.

    Um abraço e sucesso, meu caro.

    '@richardplacido

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  2. Anônimo

    Creio que está na hora de vc escrever o prometido(NSN)texto sobre o método cientifico, para que eu possa entender e (provavelmente)criticar seu pensamento.

    Ps: Não lembro minha conta para comentário, foi mal.

    Responder
  3. 1000Tron

    Muito bom ler seu texto. Mas como vc mesmo disse ou eu entendi, talvez devessemos deixar essa luz brilhar e não tentar julgar qual é real afinal corremos o risco de ficarmos como aqueles se julgam escolhidos (que tbm não suporto). No final seu texto deu a forma exatamente em consonância com o caminho da luz, fraguimentado e libertário para cada um completar e tirar sua conclusão. Fiquei realmente feliz, provocado e satisfeito em ler seus textos. Um abraço!

    Responder
  4. Tavares

    Cara vc vai fazer sucesso com esse papo neoesquerdista de buteco de faculdade. Seu bom senso decaiu muito.

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  5. DILERMArtins

    Mas bah, guri.
    Gostei um pouco…Gostaria de usar uma citação;"Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima."
    (Louis Pasteur), para dizer: Penso que não lhe falta ciência, sim Fé. Digo que seria bom dar uma olhada pra dentro de si, é lá que encontrara a verdadeira Luz, não na Filosofia ou na Anarquia. Pense nisso.
    Grande Abraço.

    Responder
  6. Anônimo

    Lendo o seu texto. Me fez lembrar de uma frase que é parte de uma indrotução de um album de uma banda de rock chamada ponto nulo no céu , que diz o seguinte :

    O Mesmo brilho que revela, também pode cegar, você só encherga o que quer, só encherga, se quiser.

    Será que tem algo haver ?

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    • Gabriel Dread

      Ou, nas palavras de Tom Zé:
      Eu to te explicando pra te confundir
      To te confundindo pra te esclarecer
      To iluminado pra poder cegar
      E to ficando cego pra poder guiar

      Responder
  7. Wellington Rodrigues

    Eu estava olhando meu "histórico" de Favoritos, pois tenho costume de guardar nessa barra sites/textos/whatever coisas que gostei, pra não perdê-los nas inúmeras informações que recebo. Provavelmente, li seu texto na época em que estava me preparando para o vestibular, e agora, me formarei daqui um ano. Hoje, 3/4 anos depois, viajo em seu texto e vejo que nada mudou em relação a essa luz, a minoria têm mais voz ativa, mas a verdade camuflada continua empacando a vida de todos, que agora são protestantes de sofá, porém, nem sabem direito o quê defendem. Tivemos progressos em muitos quesitos, a mídia aos poucos foi descreditada, não confiamos piamente nela, os jornais nem se fala, suas manipulações cada vez mais escancaradas, interesses maiores em política, mobilidade urbana, mas temos muito que evoluir ainda.

    Rumo ao conhecimento, mais luz de verdade a todos nós, aos bairros e cidades esquecidas, mas que se unem nessa era digital e integrada. Abraços.

    Responder

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