2o turno das críticas à democracia representativa

por | 15/10/10 | Revolução | 3 Comentários

Democracia: poder do povo?

Muito se fala a respeito das velhas mídias – televisão, jornais e revistas – estarem perdendo espaço para as novas mídias – blogs e afins – fato que ficaria demonstrado pelo resultado do primeiro turno das Eleições 2010. O que me impressiona é que tanto a velha mídia quanto a nova praticamente ignoram o fato que a democracia representativa é uma grande farsa.

A ilusão da escolha é alimentada tanto por televisão, jornais e revistas quanto por blogueiros, tuiteiros e correntes de email. Raros são aqueles que vão a fundo na questão e buscam entender de fato que é essa tal democracia representativa. Ela é parte de um grande “pão e circo” que serve para deixar a massa alheia a seu próprio poder de ação e decisão.

Mesmo que todos os políticos viessem de pau de arara como o Lula, ainda assim eles não representariam o povo, pois eles são apenas os bobos da corte escolhidos para iludir a massa enquanto os verdadeiros governantes (as elites oligárquicas) seguem livres, manipulando tudo. O presidente é o equivalente ao ancora de um telejornal: apenas uma figurinha carismática que concentra atenções. Raros são os políticos que podem ser considerados editores-chefe, quanto mais donos da rede de televisão.

Os políticos profissionais existem porque os poderosos aprenderam que é melhor divergir a atenção da massa para uma figura simbólica, descolada da imagem de elite ou do setor privado. Assim como o Grande Irmão – da obra 1984, de Geroge Orwell-, os líderes políticos não são nada mais do que representantes de uma elite, o Partido Interno, que na realidade é composto pelas velhas oligarquias que comandam o mundo desde sempre, seja na figura de coronéis, senhores de engenho, nobres ou papas, seja na figura de acionistas, especuladores, CEOs ou personificado nas transnacionais e grupos corporativos.

Isso não é exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos da América e nos países da União Europeia acontece o mesmo, mas o elitismo fica oculto sob uma aparência de “sucesso e desenvolvimento”. Mas a verdade é que estes supostos países industrializados e desenvolvidos vivem uma série de crises econômicas, produtivas e ecológicas. Não são modelos a serem imitados pelos subdesenvolvidos, mas exemplos do que NÃO se deve fazer. Em qualquer Estado, existe uma elite/oligarquia que domina e explora a massa. A democracia representativa é um dos entorpecentes legalizados.

A esta altura, se você for um adepto do Capitalismo “utópico”, você deve estar pensando: “Igualdade é permitir a todos as mesmas oportunidades e condições de progredir”. Lamento informar, mas no sistema “capetalista”, alguns são mais iguais do que outros. A promessa de oportunidade iguais, professada por conservadores e neo-liberais em uníssono, é uma mentira tão deslavada quanto a promessa de que a “mão invisível do mercado” vá dar conta dos problemas da humanidade. Quem nasce no esgoto da favela do submundo tem as mesmas oportunidades que um filho da elite?

Talvez seja para alimentar esta ilusão que foi permitido ao Lula, filho do Brasil, chegar ao “poder”. É conveniente para as elites alegar que as chances são iguais para todos, afinal “até um torneiro mecânico pode se tornar presidente de uma nação”. Cabe resaltar que Lula só conseguiu sucesso porque é trabalhador dedicado e esforçado, ao contrário de 35% da população brasileira que vive com menos de um salário mínimo por mês porque é preguiçosa e indolente. Aham… Pergunta pro Lula o que aconteceu com os companheiros não foram mamar nas tetas do sindicato e viver de politicagem, mas que continuaram trabalhando honestamente no chão de fábrica.Quantos deles viraram “gente que faz”? Quantos são hoje banqueiros, CEOs, especuladores internacionais?

A classe dos burocratas da política – corruptos, interesseiros, superficiais e vazios de conteúdo – não existe somente no nosso país , e não existe simplesmente por culpa de um eleitorado com baixo nível educacional e despolitizado. Isso é o que a mídia quer nos empurrar guela abaixo com o discurso politicamente correto do “voto consciente”.

Não existe voto consciente, existem pessoas conscientes. A consciência deve se refletir em todas as ações e intervenções das pessoas no mundo, não em um mero ato simbólico e esporádico de votar. Voto é a ilusão do poder que é estéril e impotente. O verdadeiro poder emana a todo instante, Aqui e Agora, o tempo todo em toda parte. Todo poder ao povo.

Não adianta procurar culpados. Culpa é um conceito cristão que nos impede de viver plenamente, a interiorização de uma força superior a nos julgar e condenar. A responsabilidade é nossa. Depositar todas as atenções em entidades cósmicas, como “democracia”, “mercado”, “Eleições”, solapa nosso poder. Coisas boas acontecem em toda parte apesar da falsa democracia representativa e outros regimes totalitários…  e acontecem pela ação. Ser ativo não é votar nem mesmo protestar, mas sim colocar a mão na massa e fazer diferente.

“Seja a mudança que você quer ver no mundo”
Mahatma Gandhi

O que você faz para mudar a si mesmo e o mundo?

Imagem: Congresso nacional, por beatriz marqs

3 Comentários

  1. Rogério

    (enviado novamente, com uma pequena correção)

    Olá Gabriel!

    sim… concordo em gênero, número e grau, democracia não existe, ainda mais quando precisa de um adjetivo, como "representativa" para torná-la possível.
    Como pode-se representar a "vontade" do povo?
    Ao mesmo tempo, se fala-se em "voto consciente"… supõe-se a existência e (e se é necessário campanhas para isso…) predominância de "votos inconscientes"… putz, se o voto inconsciente é o padrão, elegemos quem? Se a vontade era inconsciente…
    Como dizia um amigo meu, depois de uns (vários) porres: "Não me lembro do tempo que passei inconsciente"… hehehe
    Será que o padrão seria, então, tomar um porre antes de votar? Será que é legal (jurídico) votar de porre? (não existe mais lei seca, né?)
    Bem… dirigir bêbado não pode… mas votar pode? E quem dirige o país… pode dirigí-lo depois de um porre?

    Putz… de porre fiquei eu com esse meu comentário… vou embora.

    Rogério

    PS: Veja e avalie meu post lá do anacronismocronico.blogspot.com sobre o assunto…

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  2. Rosana Oshiro

    Sensacional!
    O texto mais bacana que li durante essas eleições!
    Parabens!
    Já estou compartilhando geral!

    um abraço

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  3. Sonia Frei

    Olá, Gabriel. Gostei de conhecê-lo. Tudo o que você fala sobre os puliticus sifiliticus é mais estrondosa verdade! Só discordo de alguns pontos: Quando protestamos, estamos pondo a mão na massa! Uns milhões de brasileiros protestam, acampando em beiras de estradas e, em seguida, ocupando terras improdutivas ( Movimento Sem Terra ); outros tantos, não tendo esta coragem, protestam de outras maneiras e, em seguida, voltam aos afazeres cotidianos, sofridos, ganhando salários miseráveis. E, pergunto eu: "democracia", "mercado", "Eleições" são entidades cósmicas? Pensei sempre que ENTIDADE CÓSMICA fosse uma expressão, usada para falar de seres divinos, entre pessoas que não aceitam ou não crêem no deus cristão católico. Estou enganada?

    Grande abraço a você e a todos os humanos que odeiam muito tudo isso!

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