Sutra da Grinalda de Flores

por | 23/03/09 | Espiritualidade | 2 Comentários

O budismo no Japão passou a produzir idéias genuinamente nativas durante o período Nara (710-794 d.C.). Nesta época o jovem Sudhana partiu em peregrinação e encontrou 53 grandes mestres, alguns deles homens e mulheres viventes, enquanto outros eram Budas de meditação. O ensinamento que ele trouxe de sua viagem foi o Sutra da Grinalda de Flores (Avatamsaka em sânscrito; Kegon, em japonês).
Este ensinamento é comum a todas as seitas budistas do Japão. O que ele representa é uma nova aplicação do ensinamento original do Buda, na chamada Doutrina do Mundo em Harmonia Total que se Relaciona e Interpenetra. Algumas das lições contidas neste Sutra são:

Teoria Profunda da Correlação, segundo a qual todas as coisas coexistem, surgindo simultaneamente. Elas coexistem, além do mais, não apenas com relação ao espaço, mas também ao tempo, pois passado, presente e futuro se incluem mutuamente. “Distintos como são e separados como parecem estar no tempo, todos os seres estão unidos formando uma entidade – do ponto de vista universal.”
Teoria Profunda da Liberdade Total, segundo a qual todos os seres, pequenos e grandes, comungam  entre si sem obstruções; de maneira que o poder de cada um participa do de todos e é, portanto, ilimitado. “Mesmo em um foi de cabelo há inúmeros leões de ouro.” Uma ação, por pequena que seja, inclui todas as ações.
Teoria Profunda da Complementaridade, segundo a qual tanto o oculto quanto o manifesto formam o todo pela consolidação mútua. “Se um está dentro o outro está fora, ou vice-versa.” Pela complementaridade eles constituem a unidade.
Teoria Profunda da Plenitude da Virtude Comum, segundo a qual um líder e seu seguidor, o comandante e seus comandados, trabalham juntos de modo harmônico e transparente, pois, “de acordo com o princípio um-em-todos-e-todos-em-um, eles realmente formam um todo completo”, permeando-se uns aos outros. Em outras palavras, Somos Todos UM.

Essas são algumas das maravilhosas lições do Sutra da Grinalda de Flores, cujo objetivo é o estabelecimento de uma totalidade harmoniosa de todos os seres, como uma grinalda em volta da natureza búdica de cada um.
E o sentido disso tudo está simultaneamente no corpo ativo e  na mente meditativa, de maneira que a prática da religião é a própria vida.

Referência: CAMPBELL, Joseph. As Máscaras de Deus – v. 2. Mitologia Oriental. São Paulo: Palas Athena, 1994. (p.376-379)
Fotos:  The Giant Buddha, por Andrew Muddie e Buddha Temple, por talavan.

2 Comentários

  1. entremares

    Uma das coisas que me agrada reconhecer é quando uma mensagem apela à tolerância.

    Percebe-se logo que quem apela à tolerância, também é tolerante. E quem é tolerante, respeita os outros. E para os respeitar, foi necessário ouvi-los, compreendê-los.

    E para compreender os outros, é preciso colocar-mo-nos na pele dos outros… ou seja, não fazendo aos outros o que não se deseja para si próprio…

    Chamemos-lhe muitas coisas… mas quando a mensagem é séria… percebe-se logo.

    Responder
  2. Bruno Kaneoya

    Muito legal Gabriel!
    Claro que esses ensinamentos são sempre bem vindos. Mas em tempos de total piração como o que vivemos hoje, vale o reforço.
    Abração.

    Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *