Comunidades Intencionais: Viver a Boa Vida ou Transformar a Sociedade?

por | 27/03/24 | Ecovila, Revolução, Sustentabilidade | 1 Comentário

Recentemente, Sky Blue, figura proeminente no movimento de comunidades intencionais e ecovilas nos EUA, trouxe à tona uma reflexão profunda sobre o verdadeiro impacto desse movimento na sociedade. Após uma década dedicada à liderança e participação ativa no conselho da Foundation for Intentional Community (FIC), Sky compartilhou suas percepções em uma carta aberta intitulada “Where Do We Go From Here?” [Para Onde Vamos a Partir Daqui?].

📈 Dados Reveladores sobre Comunidades Intencionais nos EUA

Sky nos convida a ponderar sobre a eficácia das comunidades intencionais e ecovilas enquanto ferramentas de transformação social. Segundo suas estimativas, existem pelo menos 3.000 comunidades intencionais nos EUA, com aproximadamente 220.000 membros adultos. Ou seja, menos de 0,1% da população adulta dos EUA já teve experiências em comunidades intencionais. Ele defende uma expansão significativa no movimento que possa realmente impactar a sociedade em larga escala. A falta de colaboração e coordenação entre as comunidades e outros movimentos cooperativos é vista como um obstáculo crítico a ser superado. A necessidade urgente de estratégias mais eficazes e colaborativas para enfrentar as crescentes crises sociais e ambientais nunca foi tão evidente. Mas para além dos números, Sky questiona: estamos realmente fazendo a diferença?

💡 Desvendando a Dicotomia nas Comunidades Intencionais

Sky Blue examina o dualismo essencial das comunidades intencionais:

  1. ser espaço harmonioso para a convivência e trabalho, ancorado em valores de bem-estar mútuo; e
  2. atuar como catalisador de transformação social, demonstrando alternativas viáveis à estrutura da sociedade atual.

🔍 Entre Ideais e a Realidade Prática

A carta de Sky ressalta uma realidade muitas vezes ofuscada pela idealização: o movimento, embora repleto de intenções positivas, tende a ser mais focado em criar refúgios pessoais do que em desenvolver tecnologias sociais capazes de promover uma mudança global. A cultura predominantemente cis-hétero, branca e de classe média ainda marca presença, apesar dos esforços para uma maior inclusão.

🌍 Contexto do Norte Global

Importante ressaltar que a análise de Sky se concentra exclusivamente no movimento nos EUA e no Canadá, territórios que conhece intimamente. Embora reflita realidade distinta do contexto brasileiro, oferece uma visão paralela ao fenômeno observado aqui no Brasil.

💭 Reflexão sobre o Individualismo e a Inspiração para Utopias

Sky propõe uma reflexão crítica sobre a tendência das comunidades intencionais em priorizar a criação de espaços isolados para o bem-estar individual, em detrimento do desenvolvimento de tecnologias sociais transformadoras. Este ponto ressoa profundamente com as periferias do sistema como na realidade brasileira, onde a precarização da vida sob o capitalismo tardio e a cultura neoliberal individualista desafiam a capacidade das comunidades de servirem como faróis para novas utopias.

🤝 Um Chamado para Ação

A carta de Sky Blue é um convite à reflexão sobre como podemos transcender a cultura de individualismo prevalente e verdadeiramente comprometer-nos com a transformação social. O chamado de Sky para uma reavaliação do propósito e estratégias dessas comunidades ecoa um sentimento universal: a necessidade de reinventarmos coletivamente nossas utopias e formas de viver.

Este é o momento de questionarmos: como podemos, individual e coletivamente, contribuir para uma mudança mais significativa? Que passos podemos dar para não apenas viver em comunidades que espelham nossos ideais, mas também para ampliar esse impacto além de nossas fronteiras imediatas?

Foto: acervo pessoal de Gabriel Siqueira

1 Comentário

  1. OCoisa

    Muito pertinente o artigo Gabriel.
    Complexo também.
    Muitos substratos navegando aí, não consigo condenar os que fazem de uma comunidade seu porto seguro e sua “ilha”.
    Vivemos numa época estranha, entre hecatombe ecológica, ascensão fascista, etc.
    Ao mesmo tempo que venho na luta de criar uma “ecovila” (termo bastante desgastado admito), não sei bem o que esperar do processo entre “viver” e ser “agente de mudança”. Não é tão simples quanto a afirmação teórica de que “podemos ser ambos”…

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