Um anarquista pede que você vote!
Eu me considero anarquista e ecossocialista, e por muitos anos deixei de votar por acreditar que minha luta política de toda a vida era muito mais impactante que o suposto poder do voto (o primeiro vídeo que eu fiz no canal do Irradiando Luz foi sobre as eleições de 2010, em que eu fui votar com nariz de palhaço e traí o movimento do voto nulo pela primeira vez em muito tempo).
Nas eleições de 2016, eu fiz a experiência de somar os votos brancos e nulos às abstenções, e o resultado foi perceber que NINGUÉM ganhou na maioria dos municípios brasileiros. (Veja esse levantamento no link: https://irradiandoluz.com.br/2016/10/ninguem-venceu-eleicoes-2016.html). Essa minha análise das eleições de 2016 viralizou e foi parar até na coluna do Marcelo Rubens Paiva no Estadão.
E isso me levou a uma profunda reflexão sobre a efetividade de não votar. Porque apesar de mais de 50% da população ter deixado de participar do processo eleitoral, por um motivo ou outro, não mudou absolutamente nada o fato que prefeitos e vereadores foram eleitos em todos os municípios.
Dessa reflexão, cheguei à seguinte conclusão: é essencial votar e participar do processo eleitoral, por diversos motivos.
Primeiro porque o protesto do voto nulo o do não voto não muda absolutamente nada na prática, sendo uma atitude que só o praticante sabe que fez, e que não impede que os velhos corruptos de sempre continuem tendo acesso à máquina pública.
Segundo porque o aumento das abstenções só interessa aos políticos partidários que tem o voto de cabresto garantido. Eles trocam favores e acesso a serviços públicos por votos, ou compram votos com cestas básicas e promessas vazias. Quanto mais gente se abstém de votar, menor é o universo de votos válidos, mais fácil fica para esses canalhas se elegerem. No caso de quem não vota e não se dá ao trabalho de justificar, por considerar a multa de R$ 3,50 irrelevante, é pior ainda porque o dinheiro arrecadado com as multas vai para o fundo partidário e é distribuído para os caciques dos partidos, fortalecendo ainda mais o sistema corrupto atual.
Terceiro, porque o Impeachment sofrido pela Dilma deixou muito explícito que o menos pior é muito melhor que o pior de todos. Pessoalmente, eu achei o governo Dilma muito ruim e cheguei a torcer para que o golpe fosse consumado mais rápido para que o Brasil pudesse seguir adiante, pois a queda me parecia inevitável. Só que o governo Temer deixou bem claro pra mim que faz toda diferença quem são os grupos políticos que estão no poder. As poucas conquistas dos movimentos sociais nas últimas 2 décadas foram apagadas em 2 anos, investimentos em saúde e educação foram congelados, aposentadoria roubada, e em contrapartida os gastos do governo aumentaram, a compra de votos do congresso e a troca de favores se tornou política oficial. Isso me leva a crer que o menos pior ainda é infinitas vezes melhor que o pior de todos.
Finalmente, o ano de 2018 marca a ascensão de um projeto anti-democrático que flerta com o fascismo. Esse movimento, que se fortaleceu nos últimos anos com o crescente ódio irracional anti-petista, chega nessas eleições com uma chapa encabeçada por um capitão reformado do exército e um vice general. Ambos fazem declarações monstruosas e demonstram seu viés anti-democrático. São uma das maiores ameaças que o nosso país enfrenta desde a redemocratização. Não votar em 2018 significa deixar o caminho mais fácil para o retrocesso democrático.
De um anarquista para o outro: essas eleições são daquelas que vale a pena votar.
Se preferir votar no melhor candidato, vote. Se não tiver melhor, vote no menos pior.
Proteste na rua, faça seu movimento político durante todo o ano, pratique ativismo socioambiental.
E em outubro, vote no menos pior. Porque alguém vai ser eleito de qualquer jeito.
Melhor garantirmos lugar para as pessoas boas ocuparem. Porque existem MUITAS boas opções, especialmente para candidatos a deputado estadual e federal. E não se esqueça de prestar atenção na coligação a quem seu candidato a deputado pertence, porque ele pode não ser eleito, mas seu voto vai contar para a formação da bancada daquela coligação.
Em 2018, não votar é dar espaço para a anti-democracia.
Vote!
Gabriel Siqueira
16 de Setembro de 2018
irradiandoluz.com.br
Foto: Diego Ernesto Fernández Gajardo
Pois é.
Mas em 2018 o menos pior para a maioria foi Bolsonaro.
Este ano estão fazendo campanha para que os jovens tirem o título, grande parte com esperança de que Lula seja beneficiado. Porém, o tiro pode sair pela culatra. Votaremos no menos pior e isso vai ser assim a vida toda.