Gestão de Ecovilas: artigo acadêmico traz estudo de caso sobre uma comunidade alternativa no sul da Bahia.
Publiquei um artigo sobre ecovilas na principal revista científica da área de Administração no Brasil, os Cadernos EBAPE da Fundação Getúlio Vargas (FVG). Nesse artigo, resumi as conclusões de minha pesquisa de mestrado no tema da gestão de comunidades alternativas.
Entre as conclusões bombásticas que encontrei, descobri que as ecovilas são um excelente campo para demonstrar a importância da experiência subjetiva social na criação, manutenção e divulgação de novas visões de mundo e estilos de vida.
Essas comunidades intencionais sustentáveis podem servir de inspiração no redesenho de nossa sociedade e criação de espaços onde as pessoas participem de relações verdadeiramente autogratificantes, pela intensidade de relações interpessoais próximas e íntimas entre seus membros, que servem para atenuar e minimizar os efeitos da tensão entre racionalidades.”
Gestão de Ecovilas: Estudo de Caso de Gabriel ‘Dread’ Siqueira
Faça o download do artigo acadêmico ‘Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental: estudo de caso em uma ecovila no sul da Bahia’, de Gabriel de Mello Vianna Siqueira.
Siqueira G – Tensão entre Racionalidades na gestão de ecovilas
O que é uma ecovila? Como se administra uma ecovila? Qual a diferença entre uma ecovila e uma comunidade alternativa? Como acontece a gestão em uma comunidade intencional?
Foram essas perguntas que me levaram a escolher a gestão de ecovilas como tema da minha dissertação de Mestrado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina, que concluí em julho de 2012. Para realizar minha pesquisa, fiz um mapeamento das ecovilas, comunidades intencionais sustentáveis e comunidades alternativas existentes no Brasil. Encontrei referência a pelo menos 100 comunidades ativas no país.
Morei, junto com minha família, durante 4 meses em uma ecovila no sul da Bahia, onde pude observar na prática como acontecia a gestão daquela comunidade. Investiguei a economia, a sociedade e os ritos, espiritualidade e cultura dessa organização. Conheci centenas de pessoas, fiz amizades, observei conflitos e participei de confraternizações. Estive imerso no turbilhão de acontecimentos da vida e da gestão de uma ecovila.
“Uma vida humana associada de bases substantivas é imediatamente possível e está ao alcance de todos que estejam dispostos a levar a melhor sobre o mercado”
Gabriel Siqueira
Minha dissertação, intitulada “Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental: estudo de caso na ecovila Itapeba“, foi a primeira da Ciência da Administração a estudar a gestão de uma ecovila. Além disso, trata-se de um inédito trabalho antropológico e etnográfico de observação participante em uma população com essas características. Inaugurei assim um novo campo de estudos: a administração de ecovilas e comunidades intencionais sustentáveis.
Um estudo inovador, feito com entusiasmo e embasado na abordagem substantiva de Alberto Guerreiro Ramos, mas que se debruça sobre um fenômeno contemporâneo recente e se resplada na observação sistemática da realidade e das práticas de gestão e tomada de decisões. Acesse o resumo dos resultados dessa pesquisa no artigo completo:
Este artigo introduziu na Ciência da Administração o estudo de um tipo de organização inédito, a ecovila. A análise dos resultados do trabalho de campo aponta às seguintes conclusões: o processo de comunicação permite equilibrar a normatividade autoimposta pelo modelo de gestão com as aspirações, os valores e a autorrealização; encontros regulares, tomada de decisão, gestão de conflitos, rituais, celebrações e encontros não planejados compõem o universo das relações interpessoais no âmbito das comunidades sustentáveis; a criação de espaços para tomada de decisão e exercício da vida política que privilegiem a racionalidade substantiva não implica redução dos espaços técnicos e burocráticos típicos da racionalidade instrumental; a participação no processo decisório, o acesso às instâncias políticas e de poder e a possibilidade de afirmar princípios pessoais são essenciais para conciliar as expectativas pessoais e as exigências organizacionais. As ecovilas representam uma síntese entre conhecimento e ação, entre teoria e prática, apresentando-se como uma das diversas respostas possíveis à crise civilizatória da atualidade.
Tension between substantive and instrumental rationalities: case study of on ecovillage in the south of Bahia
Abstract
The present article aims to investigate the manifestations of the tension between substantive and instrumental rationalities in management of the Itapeba Ecovillage. It is an ex-post-facto qualitative research. Was adopted ethnography as our methodological strategy. Was applied participant observation at the Itapeba ecovillages between May and September 2011. Was adopted the substantive approach to organizations as our theoretical basis. This work introduces in the Administration Science the study on a previously unpublished kind of organization, the ecovillages. The result of the analysis of the fieldwork point to the following conclusions: instrumental and substantive rationalities are not self excluding; the process of communication provides support to balance between self-imposed normativity of management with aspirations, values and self actualization of subjects; regular gatherings, decision making, conflict management, rituals celebrations and unplanned gatherings are all part of the interpersonal relationships universe of sustainable communities; the creation of spaces designed for decision making and exercise of political life that privilege substantive rationality do not imply the reduction of typical instrumental spaces such as technical and bureaucratic ones; to participate in decision processes, to have accesses to political and power instances and the possibility to affirm personal principles are essential to conciliate personal expectancies and organizational demands; ecovillages represent a synthesis between knowledge and action, between theory and practice, and are viable answers to the current civilization crisis.
Keywords: Substantive Rationality. Instrumental Rationality. Tension between Rationalities. Ecovillages. Ethnography.
Tensión entre la racionalidad sustantiva e instrumental: Estudio de caso en una ecoaldea del sur de Bahía
Resumen
Este artículo tiene como objetivo comprender la tensión entre la racionalidad sustantiva e instrumental en la gestión de la ecoaldea Itapeba. Se trata de un estudio cualitativo ex-post-facto en el cual se utilizó el método etnográfico, por medio de observación participante, realizada entre mayo y septiembre de 2011. La base teórica fue el enfoque sustantivo de las organizaciones y el campo de estudio de racionalidad en la práctica administrativa. Este trabajo introdujo en la Ciencia de la Administración el estudio de un tipo de organización inédito: la ecoaldea.
El análisis de los resultados del trabajo de campo muestra las siguientes conclusiones: la racionalidad instrumental y la sustantiva no son excluyentes; el proceso de comunicación permite equilibrar la normatividad autoimpuesta por el modelo de gestión con las aspiraciones, los valores y la autorrealización; reuniones regulares, toma de decisiones, gestión de conflictos, rituales, celebraciones y encuentros espontáneos componen el universo de las relaciones interpersonales en el ámbito de las comunidades sostenibles; la creación de espacios para toma de decisiones y ejercicio de la vida política que privilegien la racionalidad sustantiva no implica en la reducción de los espacios técnicos y burocráticos típicos de la racionalidad instrumental; la participación en el proceso decisorio, el acceso a las instancias políticas y de poder y la posibilidad de afirmar principios personales son esenciales para conciliar las expectativas personales y las exigencias organizacionales. Las ecoaldeas representan una síntesis entre conocimiento y acción, entre teoría y práctica, presentándose como una de las diversas respuestas posibles a la crisis civilizatoria de la actualidad.
Palabras clave: Racionalidad sustantiva. Racionalidad instrumental. Tensión entre racionalidades. Ecoaldea. Etnografía.
Saiba mais sobre Ecovilas, Comunidades Alternativas e Assentamentos Sustentáveis
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Quer criar uma ecovila? Sonha em empreender e fundar um cohousing urbano ou rural? Quer se voluntariar ou morar em uma comunidade alternativa? Esta é uma oportunidade de você se capacitar para conhecer e enfrentar desafios nesse caminho! Este curso é recomendado para pessoas interessadas em morar em ecovilas, comunidades intencionais, co-housing ou que desejam ou já encaram co-work e outros coletivos auto-gestionados. Também atende à demanda de empreendedores que querem inovar na sua forma de gestão. Continue lendo: Curso Online Gestão de Ecovilas
Mapeamento de Ecovilas e Comunidades Alternativas do Brasil
Ecovilas são assentamentos funcionalmente completos, onde as atividades humanas estão integradas ao mundo natural de forma sustentável, apoiando o desenvolvimento humano saudável e que tem continuidade futura assegurada. Durante minha pesquisa de mestrado sobre gestão de ecovilas, mapeei 101 comunidades alternativas e assentamentos sustentáveis do Brasil. Algumas regiões exercem maior atração para criação de comunidades, atuando como espécie de polos que congregam diversas comunidades alternativas, intencionais, sustentáveis e ecovilas. As comunidades apresentadas na listagem estão agrupadas de acordo com essas regiões aglutinadoras.Veja o mapa completo: Mapeamento de Ecovilas, Comunidades Alternativas e Assentamentos Sustentáveis do Brasil
Artigos sobre Ciência, Epistemologia e Sociologia da Administração
A ciência é neutra?
Muitos cientistas querem afirmar a neutralidade, mas a verdade é que somos naturalmente parciais. Toda e qualquer observação de fatos não é desprovida de valores, e a própria escolha do objeto de pesquisa depende de preferências pessoais do pesquisador. Pesquisas científicas são financiadas por pessoas ou instituições com interesses políticos. O mito da ciência pura e neutra é desconstruído por Marx, Weber e uma diversidade de autores. Leia o artigo completo: A ciência é neutra?
Alberto Guerreiro Ramos, vida e obra do maior sociólogo do Brasil
Alberto Guerreiro Ramos foi um dos maiores intelectuais brasileiros, e provavelmente o maior sociólogo do país. Sua obra acadêmica é reconhecida internacionalmente. Suas pesquisas ajudam até hoje o campo de administração a ser capaz de inovar e levar em consideração a dimensão da sustentabilidade ambiental. Guerreiro tem uma forma de fazer ciência e de produzir conhecimento que vai de encontro aos moldes hegemônicos, que se contrapõe à nossa propalada cordialidade. As críticas dirigidas por Guerreiro a nomes consagrados nas ciências sociais brasileiras como, Florestan Fernandes, não deixam dúvidas sobre o seu estilo. Leia sua biografia completa: Alberto Guerreiro Ramos, vida e obra do maior sociólogo do Brasil
A redução da Redução Sociológica de Alberto Guerreiro Ramos
A Redução Sociológica pressupõe um olhar criterioso sobre a ciência. A principal preocupação de Guerreiro Ramos era ser um sociólogo “em mangas de camisa”, inserido e atuante em seu contexto social, adotando uma postura política transformadora. Ele estava se rebelando contra a sociologia que era (e ainda é) dominante nas universidades brasileiras: uma sociologia “de gabinete”, distante da realidade nacional, e “consular”, onde o sociólogo atua menos como um solucionador de problemas e mais como representante de uma teoria estrangeira incapaz de explicar a realidade local, apoiando assim a dominação cultural e científica que os países periféricos sempre sofreram e continuam sofrendo.. Leia o artigo completo: A redução da Redução Sociológica de Alberto Guerreiro Ramos
A Síndrome Comportamental, de acordo com Alberto Guerreiro Ramos
Onde quer que a articulação do pensamento não encontre critérios de exatidão, não existe sabedoria. A síndrome comportamentalista faz com que o indivíduo se comporte como uma engrenagem. Alberto Guerreiro Ramos analisa a base psicológica da teoria organizacional e da ciência social em voga. O autor considera que as organizações são sistemas cognitivos e que seus membros em geral assimilam, interiormente, tais sistemas e assim, sem saberem, tornam-se pensadores inconscientes. Leia o artigo completo: A Síndrome Comportamental, de acordo com Alberto Guerreiro Ramos
Consenso e a racionalidade substantiva, TCC de Gabriel ‘Dread’ Siqueira
Vivemos em uma democracia participativa (ou não), onde a vontade da maioria é entendida como antagônica à da minoria. Esta minoria fica assim excluída do processo decisório político. O conflito é punido e reprimido na democracia. O consenso é a superação da democracia excludente. O objetivo do consenso é convergir alternativas e possibilidades de atender a necessidades de diferentes grupos e setores sociais em soluções conciliatórias. O conflito é uma etapa necessária do processo de consenso. É neste contexto que elaborei meu Trabalho de Conclusão do Curso de Administração. Leia o artigo completo: Consenso e a racionalidade substantiva, trabalho de conclusão do curso de Gabriel ‘Dread’ Siqueira
As organizações do movimento alternativo, por Mauricio Serva
Joseph Huber, sociólogo, economista e professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Livre de Berlim, fêz uma extensa pesquisa sobre organizações que ele denominou “projetos alternativos” no inícios dos anos 80, na então Alemanha Ocidental. Caracterizando o “movimento alternativo” como uma “explosão de idéias”, Huber (1985) nos dá uma visão suficientemente ampla desse movimento na Alemanha, relacionando as grandes áreas onde tais organizações aparecem. Leia o artigo completo: As organizações do movimento alternativo, por Mauricio Serva
A Grande Transformação, de Karl Polanyi
O futuro de alguns países já pode ser o presente em outros, enquanto alguns ainda podem incorporar o passado dos demais. Mas o resultado é comum a todos eles: o sistema de mercado não será mais auto-regulável, mesmo em princípio, uma vez que ele não incluirá o trabalho, a terra e o dinheiro. Karl Paul Polanyi foi um um filósofo, economista e antropólogo húngaro, conhecido por sua oposição ao pensamento econômico tradicional. Leia o artigo completo: A Grande Transformação, de Karl Polanyi
Empowerment: uma abordagem crítica
Empowerment, em português, significa “dar poder a”. No entanto, no contexto da Teoria das Organizações, empowerment é mais uma “tecnologia”, “modelo”, “técnica” ou até mesmo “modismo” da prática administrativa, recentemente muito popular nos círculos gerenciais. Deve-se atentar para o fato de que empowerment, assim como outras “tecnologias revolucionárias” e “tendências” administrativas, podem ser (e geralmente são) instrumentos de controle, maneiras de legitimar o papel central das organizações econômicas na vida de seus funcionários. Leia o artigo completo: Empowerment: uma abordagem crítica
Apreciação Crítica do livro “Marketing de Guerra”, de Al Ries e Jack Trout
Marketing de Guerra: já não temos violência demais no mundo? É impossível, para mim, realizar um trabalho acadêmico a respeito do livro “Marketing de Guerra” (1986), de Al Ries e Jack Trout, sem explicitar uma crítica. Na minha opinião, a visão de mundo e paradigma das quais parte a premissa desta obra ajudam a corroborar o estado de depressão psicológica e falta de sentido da vida que assolam nossa sociedade centrada no mercado. Leia o artigo completo: Apreciação Crítica do livro “Marketing de Guerra”, de Al Ries e Jack Trout
A Nova Ciência das Organizações: uma reconceituação da riqueza das nações
Foi a última obra publicada por Alberto Guerreiro Ramos, em 1981. Este livro foi publicada originalmente em inglês pela Universidade de Toronto (University of Toronto) com o título “The new science of organizations: a reconceptualization of the wealth of the nations”. É o resultado de suas pesquisas sobre a redução sociológica como “superação da ciência social nos moldes institucionais e universitários em que se encontra”. Uma proposta revolucionária de ciência, embasada em uma racionalidade substantiva. Leia o artigo: A Nova Ciência das Organizações: uma reconceituação da riqueza das nações, de Alberto Guerreiro Ramos
Banca da Graça: uma experiência de economia da dádiva e amor incondicional
Imagine que você está andando no centro de sua cidade. De repente, você se depara com uma banca cheia de CDs, DVDs, livros, utensílios diversos, brinquedos de criança, aparelhos celulares e até um computador. Instigado pela curiosidade, você resolve se aproximar e descobre que tudo isso está de graça. É só chegar e pegar! Esta é a proposta da Banca de Graça, uma iniciativa subversiva e revolucionária que você vai conhecer agora. Leia o artigo completo: Banca da Graça: uma experiência de economia da dádiva e amor incondicional
Parabens Gabriël! Super interessante este estudo sobre gerência de ecovilas. Parece a primeira vista muito bonita iniciar ume ecovila, mas experimentei que nosso visão durante os anos a seguir não foi protegido polos administradores. Por isso: muito estimo para teu trabalho! Espero que ajuda outras comunidades iniciarem com melhor plano e melhor preparação!
Com um grande braço,
Sandra,
Portugal
Oi Sandra! Realmente, não é fácil criar um projeto verdadeiramente comunitário. Seguimos nesse trabalho para apoiar a criação de projetos colaborativos com acordos claros e planejamento adequado 😀